Blog do Homem Estupendo

O "blog" de um homem que é tudo menos estupendo...

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terça-feira, fevereiro 14, 2006

O português

Uma das actividades que proponho aos meus formandos pede que eles opinem sobre o que é ser português. Esta actividade é introduzida por uma banda desenhada, na qual, mordazmente, se aponta um dos traços bem distintivos do vulgar “tuga”: o hábito de dizer mal de nós próprios, de nos denegrirmos, e de sermos pessimistas, embora, se for um estrangeiro a dizer mal de nós, bom, aí tudo muda e nós somos os maiores.

É curioso notar que (quase todos) os meus formandos rejeitam esta ideia. Então seria de esperar textos bem optimistas e que valorizassem o que somos e o que por cá se faz, mas tal raramente acontece. Penso que, de facto, os textos que leio confirmam a ideia da BD.

Porém, há outros traços que, creio, hoje em dia caracterizam melhor o português. Para além do chavão de sermos maus condutores, de nos desvalorizarmos, de andarmos sempre taciturnos e a cantar o fado, julgo que hoje temos outras coisas que nos descrevem melhor.

Da minha responsabilidade, identifico facilmente três, que são as seguintes:

Não temos dinheiro, não temos tempo, e estamos sempre cansados. Ou melhor: DIZEMOS que não temos dinheiro, que não temos tempo, e que estamos sempre cansados.

Com efeito, como é possível haver pessoas que trabalham apenas algumas horas por dia, serviços fáceis em que não puxam pela cabeça nem pelo físico, que passam a vida a ver televisão, ou a falar pela net, e mesmo assim clamam constantemente que estão cansadas?

Como é que posso aceitar que haja pessoas que passem 8 horas no trabalho, mas só 3 ou 4 a trabalhar efectivamente, e que depois ainda tenham o grande cinismo que praguejar constantemente, dizendo que têm tido muito trabalho?

E como é que poderei compreender que pessoas que ganham bem, dinheiro certo, que compram motos, móveis, artigos perfeitamente desnecessários que mais não são do que expressões de riqueza supérfluas, tenham a lata de se queixar de dez em dez minutos que não têm dinheiro?

Porém, é este tipo de pessoa que nós vemos hoje em dia; o típico português é este fulano, aparentemente paradoxal, mas que na realidade nem se dá conta de o ser e da paupérrima e insuportável imagem que transmite. Com efeito, o “tuga” é assim:

(Diz que) não tem dinheiro, mas nunca deixa de ir ao café três vezes ao dia, de comprar o último telemóvel que saiu, de possuir um carro, e de dar 60 euros ou mais pelo concerto dos U2;

(Diz que) anda sempre cansado do trabalho, mas à sexta-feira à noite é até o sol nascer, a dançar e a beber, e pelo meio da semana ainda conseguiu almoçar em duas horas, em vez da uma permitida pelo horário, para já não falar dos intervalos para o café, para o bolo, para o iogurte e para o chá; ah, e dos habituais atrasos – do trânsito – e das saídas mais cedo – que (nunca) são sempre pontuais;

Para completar, só falta de dizer que português que é português adora o tunning, a selecção e falar mal dos políticos, como se os políticos não fossem também portuguesinhos e animais como nós…

Agora, meus amigos, enfiem a carapuça, se tiverem essa coragem.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Comentários a uma notícia (ou Sobre os pombos)

Hoje limito-me a comentar esta notícia do Público (07-02-2006).

“Os pombos não representam risco de transmissão do vírus da gripe das aves na Europa, afirma a Comissão de Acompanhamento da Gripe das Aves em Portugal, depois de hoje ter sido anunciada a morte de um criador de pombos no Iraque, que tinha dois animais infectados com a estirpe H5N1.

Um criador de pombos da localidade de Amara, no sul do Iraque, morreu com sintomas de gripe das aves. De acordo com os responsáveis do laboratório veterinário de Bagdad, dois dos seus pombos eram portadores do H5N1.”


Comentários:

Então já temos uma comissão de acompanhamento do H5N1 em Portugal? Grande tacho! A desgraçada da doença ainda nem sequer chegou ao país, e já temos tipos a segui-la… O que farão eles todo o dia?...


E digam lá que não sentem aqui um certo contra-senso? Por um lado, um columbófilo iraquiano qualquer morre vitimado pelo H5N1, juntamente com os seus dois pombos que também transportavam a doença, e por outro os nossos eruditos vêm peremptoriamente afirmar que não há risco de contágio entre pombos e humanos… É de tomates afirmar uma coisa destas perante o sucedido no Iraque…


Claro que os iluminados seres da Comissão de Acompanhamento da Gripe das Aves em Portugal podem (ou melhor, só podem) estar a pensar que o infeliz iraquiano pisou uma mina, ou que apertou demasiado o cinto de explosivos que estava a apertar para preparar mais um ataque suicida, mas mesmo assim é capaz de ser um bocado imprudente uma afirmação destas perante os factos passados nas margens do Eufrates.


A menos que esses senhores partilhem da minha convicção de que os pombos não são aves, ou seja, de que esses animais são apenas bestas demoníacas que comem produtos radioactivos todo o dia para depois produzirem fezes absolutamente corrosivas, as quais evacuam com precisão milimétrica sobre as nossas roupas e carros.

Assim sendo, os pombos não seriam verdadeiras aves, isto é, não seriam simpáticos como patos, úteis como galináceos, ou belos como cisnes, não, e assim não transmitiriam o H5N1. Para mim, e corroborando estas afirmações da Comissão de Acompanhamento da Gripe das Aves em Portugal, os pombos são apenas inúteis voadores que nos lixam a pintura dos carros, e que dão algum sentido à vida dos idosos.


Pelo sim, pelo não, sugiro que demos toneladas de carcaças com veneno aos nossos idosos, para que depois eles possam – sem o saber – intoxicar até à morte essas energúmenos dos pombos.


E que belo espectáculo seria: em vez de bostas de pombo a cair, seriam os próprios animais.


Avisem e distribuam capacetes aos cidadãos!

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Desculpa Esfarrapada

Como tentativa de recuperar um blogue que entretanto apodreceu e ganhou bicho, cheirando agora àquele odor que podemos inalar nas margens do rio Trancão, ou pior, aqui se segue um textozinho, o qual, como alguns bem saberão, poderia ser verídico, mas não é. Quero aqui dizer, publicamente, que isto não aconteceu na realidade, que é inventado. Porém, quem me conhece bem sabe que poderia perfeitamente ter acontecido.

(De qualquer modo, reparem na pedagogia deste texto.)

Ora bem, tudo se passou por volta das 15:30, num destes dias gelados desta semana. Eu encontrava-me no trabalho, infelizmente a fazer apenas trabalho de secretária, ou seja, a ler merdas e a corrigir trabalhos de formandos – trabalhos de muito baixa qualidade, diga-se…

Acontece que o almoço tinha sido à base de grão, elemento que compunha a suculenta salada de atum que eu tinha comido hora e meia antes.

No meio do marasmo e do tédio em que estava a afogar-me a ler aqueles trabalhos, começo a sentir os meus intestinos a darem-me sinal de que queriam expelir qualquer coisa que não sólida, ou seja, havia ar a mais dentro de mim e ele teria de sair rapidamente, pois começava a incomodar. Dito de outra forma: vinha aí um belo, sonoro, provavelmente mal-cheiroso, mas aliviante peido.

Imediatamente, estudei as hipóteses: ora ir à casa de banho não era opção, pois estava ocupada; por outro lado, os meus colegas há já algum tempo que não entravam na minha sala. Logo, parecia-me que estavam reunidas as condições necessárias para que, inclinando-me airosamente sobre uma nádega, pudesse pôr fim ao meu aperto.

Se assim pensei, melhor o fiz. E que alívio, meus caros… Não há dúvida de que o grão me causa muita flatulência e de que um belo peido, quando bem dado, é um alívio que roça o prazer. Quem não sorri e liberta um sonora “aghhhhhh…” quando dá um traque?

Inesperadamente, ainda quando eu estava a descobrir que afinal tinha dado peido que além de sonoro tinha um odor pestilento – a fazer lembrar o odor que deste blogue emana… – entra-me na sala uma colega minha para ir arrumar uns dossiers exactamente no móvel que fica junto à minha secretária.

O que fazer?!

Com os olhos pregados no papel que tinha sobre a secretária, a minha cabeça tentava desesperadamente pensar num engenhoso plano para me desculpar acerca do cheiro estranho que invadia a sala, mas não conseguia engendrar nada que me subtraísse das evidentes responsabilidades.

A minha colega arrumou o dossier, deu uma fungadela, depois outra, virou-se lentamente para trás, olhou para mim, cheirou mais um pouco e de repente, quando claramente estava num beco sem saída e pensava que perderia todo a (pouca) consideração que ela tem por mim, surgiu-me uma desculpar perfeita:

“- Eh pá, não está aqui um cheiro estranho?” – disse-lhe eu, descaradamente.

“- Está, realmente está… Cheira mal…” – concordou ela.

E foi aí que eu consegui colocar uma expressão mais normal, senti até que sorri ligeiramente, deixei de estar vermelho de vergonha e, enquanto fingia olhar para os meus ténis, disse: “Olha, pá… Que chatice… Pisei caca de cão…”

Brilhante, brilhante! Que ideia magnífica! Genial! Ali estava a perfeita desculpa! Ali estava a razão inventada e perfeitamente credível! Ali estava o verdadeiro responsável: um cão, um malvado cão!

Claro que tudo caiu por terra quando ela me disse: “Mas nós almoçámos juntos no refeitório, viemos directos para aqui, ainda há pouco estive nesta sala, tu estiveste sempre aqui e não me cheirava a nada…”

Bolas!

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