Blog do Homem Estupendo

O "blog" de um homem que é tudo menos estupendo...

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domingo, junho 25, 2006

(Re)Encontros (parte 1)

(Advertência: este post deve ser lido tendo em conta que o que lhe antecede relata acontecimentos ocorridos depois dos acontecimentos relatados neste. Confuso? É apenas a magia da alteração da cronologia através da escrita, ou, neste caso, através... disto. É que para pôr tudo num só post, ele ficaria demasiado grande, e assim consegue-se um efeito de curiosidade, capaz de levar o meu paciente leitor a inutilizar mais uns minutos do seu precioso tempo. Assim, em vez de estar a trabalhar e a ajudar Portugal a sair do buraco, ou apenas em frente à SportTv a ver o Mundial, poderá ler mais algumas humilhantes informações acerca do meu dia-a-dia estupidamente insignificante, e exclamar, no final da leitura, "porra, grande bimbo!".
Feita a advertência, cá vai o tal dois em um. Neste caso, um em dois.)


Hoje à tarde desloquei-me, novamente, à biblioteca da faculdade de letras.

Estava um pouco reticente em voltar lá tão cedo e ter de enfrentar aquela funcionária “hipercundríaca”, mas teve mesmo de ser.

Muni-me de duas pistolas de seis tiros, pus os coldres, um palito no canto da boca, dei a minha cuspidela para o chão e afaguei o meu chapéu, e entrei na biblioteca.

No segundo andar, por trás de um singelo balcão a fazer lembrar os balcões dos saloons do far west, mas onde, em vez de cervejas e copos de tequilla ou whiskey, apenas se amontoam livros, lá estava ela.

Avancei com coragem e determinação, e sem demora lancei-lhe rudemente:

- Muito boa tarde, minha cara senhora…

Lamentavelmente para vós, leitores ávidos de sangue e curiosos por tudo o que seja rocambolesco, a senhora não só não me reconheceu, como se mostrou bastante prestável, acedendo a explicar-me algumas coisas relativas às cotas dos livros em depósito. Afinal, devem existir mais utentes a darem-lhe respostas tortas, ou a reclamar apenas um serviço digno. Não lhe fiquei na memória.

(Re)Encontros (parte 2)

Por outro lado, e só para não ficarem tristes, aqui vai um episódio, este sim, rocambolesco.

Quando saí da biblioteca, fui lanchar ao bar da faculdade.

Por estes dias, a biblioteca e toda a faculdade andam bastante vazias, pois é época de exames e, para ajudar, Portugal jogava com o México neste dia.

Ora, depois de algumas horas nos livros, o Ice Tea que bebi ao almoço teve de ser expulso da minha intolerante bexiga, pelo que passei pela casa de banho antes de ir para o bar.

Antes de pensarem: será que ele lavou as mãos?!, devo dizer-vos que não, não lavei, o que fará de mim um porco inominável, ou apenas um tipo que não tem nojo do seu sexo, e o mantém lavadinho. Ou então, sou só um tipo que sabe mijar, sem pintar as mãos de amarelo…

De qualquer modo, ia a entrar no bar, e vejo um tipo, que estava sentado a uma mesa, sozinho, a olhar para mim. Porém, não foi só um trocar de olhos, um “ser notado”. Foi mais do que isso, pois o tipo olhou insistentemente para mim.

Imediatamente, pensei: queres lá ver que saíste da casa de banho com a braguilha aberta?

Confesso que sou famoso por deixar o “passarinho à janela” quando saio da casa de banho, mas assim que me cheguei ao balcão pude pôr uma mão num bolso e notar, sem olhar para baixo, que hoje estava tudo em ordem.

Admirável, não é: conseguir perceber que a braguilha está fechada sem olhar para ela, só pelo tacto… Grande proeza que consegui desenvolver e aperfeiçoar ao longo dos anos…

De qualquer modo, hoje, esta técnica era desnecessária, pois as minhas calças não tinham fecho. Digamos que eram daquele tipo de calças que me fazem recordar experiências atemorizadoras da minha infância, em que eu ia de calças de fato de treino para a escola, e havia sempre um miúdo que mas puxava para baixo, deixando-me em cuecas em frente àquelas miúdas giras de 6 e 7 anos que estava a tentar impressionar.

Ah, se eu já soubesse a palavra “paneleiro” nessa altura…

E por falar em paneleiro, voltemos ao tipo.

É que eu me esqueci completamente do contexto em que estava inserido, ou seja, a faculdade de letras. Na FLUL, como eu costumo dizer, temos 90% de indivíduos do sexo feminino, e 95% a gostar de homens. E atenção que dos 5%, que gosta de mulheres, 4% são… mulheres também…

Nessa altura, a ideia atingiu-me na cabeça, mais ou menos no meio da testa, onde eu costumava levar “belinhas” dos meus colegas da primária: o tipo estava a tirar-me as medidas!!?!

Paguei ao senhor do café com um sorriso nos lábios, expressão de incredibilidade, e sentei-me numa mesa próxima a saborear o croissant que comprara.

Como diz o povo, “ele há coisas…”. “Ao que isto chegou”, pensava eu: “agora que já não atraio gajas à pala da minha barriguinha e da minha careca, começo a atrair gays?!”

Bom, estava absorto nestes pensamentos jocosos, ainda sorrindo com este acontecimento insólito, quando o tipo que me tinha olhado se levanta da mesa da esplanada, vai ao balcão, pede qualquer coisa, e depois se senta numa mesa mesmo à minha frente, assinalando a sua presença com um singelo e suspeito sorriso…

Bom, o meu sorriso acabou ali.

terça-feira, junho 13, 2006

O Homem Estupendo está de “molho”

Cá está, confirmando o subtítulo deste blogue, o Homem Estupendo não está nada estupendo. Aliás, até está bastante por baixo, nas lonas, e quase na merda, literalmente.

Não, ainda não me tornei canalizador – ainda que rejeitando ser professor, esta é uma profissão com futuro e demanda permanente, pois havemos sempre de viver em sociedade, de precisar de água e de defecar, pelo que haverá sempre canalizadores – mas o que se passa é que ontem comi qualquer coisa que me fez profundamente mal.

Pode ter sido do peixe em duvidoso estado de conservação, pode ter sido das batatas que o acompanhavam, que pareciam um tabuleiro de xadrez de tão negras que estavam, ou pode até ter sido do ligeiro arroz de choco que jantei, oportunamente aquecido no microondas, mas o que é certo é que houve qualquer coisa que me fez mal.

Claro que, para o vulgar ser humano, uma paragem de digestão, ou apenas uma alteração na sua flora intestinal, tem apenas um cenário possível: sensação de enfartamento acompanhada de sonoros e repentinos arrotos, massivas libertações anais de gás, pujantes jactos de diarreia, e, nos casos mais graves, uma recapitulação da refeição que nos fez mal, através de uma sempre simpática e aliviadora regurgitação involuntária, vulgo vómito, ou chamamento do Gregório.

No entanto, é aqui mesmo que eu divirjo de muitas pessoas. É que enquanto esta sucessão de acontecimentos é rápida para a maioria da populaça, e acaba sempre com uma poderosa e gratificante sensação de alívio, para mim nunca me acontece nem uma coisa, nem outra!

A minha namorada, por exemplo, consegue vomitar o jantar em segundos, sem que eu me aperceba disso, e apenas com 30 minutos de sintomas de paragem de digestão.

Por outro lado, dois amigos meus já me provaram, por mais do que uma vez – infelizmente – que conseguem estar numa noite de borga, beber demais, ficarem um bocado mal dispostos, e depois vomitam e voltam para a festa como se nada fosse. Aliás, aqui há uns tempos, estávamos na praia, no Algarve, numa grande maratona de álcool e afins, quando de repente, um amigo meu me disse: “Já não estou lá muito bem… Eu já volto, ok?” E nisto virou costas, deu três passos atrás, vomitou toda a aguardente e cerveja que havia depositado no estômago, e voltou para o grupo, limpando os cantos da boca e dizendo apenas: “Querem ir buscar mais uma cerveja?...”

Não é justo! Que inveja!

Hoje acordei já mal disposto e estranho, com a cabeça pesada, e com uma terrível urgência de ir até à casa de banho.

Depois vocês imaginam o que se passou, digamos apenas que estive bastante próximo do universo de trabalho dos canalizadores.

O resto do dia tem sido passado com dores por todo o corpo, uma pontada de febre, frio, e com um festival de música electrónica dentro da minha barriga…

Já tomei 3 antipiréticos e agora abri mais uma garrafa de água com gás, para ver se isto vai ao sítio. Pelas minhas contas, ainda faltam cerca de 3 horas para vomitar, pois normalmente eu demoro sempre 12 horas a vomitar o que me fez mal.

Ah, e já tenho a certeza absoluta de que amanhã o dia me vai correr muito mal.

Será um típico dia em que me vou sentir literalmente afogado na merd… Bom, no tal universo do canalizador, ou do técnico das estações de tratamento das águas residuais. Boas profissões, sem dúvida.

quinta-feira, junho 01, 2006

Bibliotecárias...

31 De Maio de 2006, Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

- Pois, de modo que é assim… Eu fiquei logo em pânico! Já viste? Uma mulher com a minha idade, agora dizerem-lhe uma coisa destas assim, que era “hipercondríaca”, só porque tinha uma borbulha no nariz e decidi ir ao médico…
- Realmente…
- (…)
- É que aquilo nem era uma borbulha; era um inchaço… um hematoma… um abcesso, e enorme! E ainda por cima por dentro do nariz…
- Tcheia… Isso é que é pior…
- (…)
- Ah pois é… Mas também, o que é que se há de esperar de um médico espanhol?! Eles nem sequer falam a mesma língua de nós! Só estão cá a roubar o lugar aos portugueses!
- Boa tarde…
- Eu, se mandasse nisto, mandava-os todos para a terra deles!
- Essa é que era…
- Boa tarde, minhas senhoras…
- Boa tarde, diga…
- Olhe, eu queria consultar uns livros que estão no depósito…
- Ah, pois, mas se é no depósito vai ter de preencher aqui estas fichas, com as cotas das obras em questão, e depois volta aqui…
- Já fiz isso…
- Pois era! Eu, realmente, acho que eles deviam todos de voltar para a… Já fez?
- Sim, estou com eles aqui na minha mão…
- Ah, então deixe cá ver isso…
- Faça o favor!
- Pois, pois… Hum, hum… Pois é… Fez, mas não fez…
- Como?
- Pois, é que destas 4 cotas, há aqui duas que podem já seguir para o depósito, mas há outras duas que não.
- Então porquê?
- É que estas cotas não são nossas. Tem de as procurar ali em cima, na parte do Centro de Linguística.
- Já procurei.
- Pois, está a ver aquela lâmpada ali ao fundo? Desde essa estante que está ao pé da lâmpada até aqui são tudo obras do Centro.
- Sim, eu sei.
- Tem de procurar aí.
- Como lhe disse, já procurei.
- Ai já?... Ah…
- Sim, já lá andei, há uma semana e há quinze dias.
- Pois, mas então é procurar melhor… Olha e os enfermeiros? É que os enfermeiros também são todos espanhóis! No outro dia, tive de ir levar uma injecção, por causa do meu reumático…
(Quero aqui dizer ao meu leitor, que eu não saí da frente da mulher, ou seja, continuei exactamente ao balcão, como estava…)
- Olha, se faz favor…
- Tem de procurar, já lhe disse…
- Sim, eu ouvi. E também já lhe disse que já procurei. Aliás, já procurei várias vezes, isto porque as estantes tinham informação da cota, mas agora essa informação está riscada… Quer elucidar-me acerca do assunto?
- Quero o quê?!
- Explique-me porque é que as cotas estão riscadas…
- Então e eu é que sei?! Se estão riscadas é porque alguém riscou…
- Brilhante dedução, sem dúvida. Mas então diga-me lá, se fizer o favor, onde posso encontrar as obras que procuro.
- Mas eu já lhe disse! As cotas estão mal, pois são do Centro de Linguística! Não é nada connosco! Se quiser, dou-lhe o contacto da Dra. que está encarregue do centro…
- Pois então faça isso, já agora…
- Hum?! A sério que o quer?!
- Sim. Porquê?
- Mas sabe de quem estou a falar?
- Não, mas se me disser…
- Ah… Pois… Está bem… Bom, eu já lhe dou um cartão… Tome lá…
- Então ela não está cá agora, é?
- Pois, realmente não está…
- Bom, então de que é que me serve este cartão?
- A… Bom… Olhe, volte noutro dia, e de preferência de manhã, está bem?
- Pronto, está bem, voltarei um dia de manhã para falar com ela.
- Então, muito boa tarde. De modo que é assim, os enfermeiros também são todos espanhóis, o que é lamentável, tendo em conta que…
- Olhe…
- Ó SENHOR, EU JÁ LHE DISSE QUE NÃO LHE POSSO FAZER NADA! AS SUAS COTAS ESTÃO ERRADAS OU SÃO DO CENTRO, E NÓS NÃO TEMOS NADA A VER COM OS LIVROS DO CENTRO! VOLTE NOUTRO DIA!
- Olhe, em vez de me gritar na cara, veja se não se irrita muito, porque isso lhe faz mal à saúde e pode provocar outro encontro desagradável com médicos espanhóis que, admiravelmente, falem espanhol e não português, e tente fazer algum exercício enquanto me vai ao depósito buscar as duas obras cujas cotas estão certas e são desta biblioteca. Que tal? Pode ser?

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