Caríssimos amigos, aquilo de que vos falar hoje é um assunto muito sério, embora, para muita gente, seja apenas um motivo para uma boa gargalhada. Porém, sei que alguns entre vós compreenderão que o tema desta crónica é sério e chega até a ser doloroso.
Este texto pretende apresentar alguns dos problemas que quem circula nos comboios da linha de Sintra enfrenta, e almeja igualmente deixar alguns tópicos à reflexão dos meus leitores.
Para quem só andou de comboio uma ou outra vez na vida, essa escassa experiência é relembrada como algo agradável e até epicamente belo. Por exemplo, se só se viajou uma vez de comboio e essa viagem foi feita a caminho do Festival do Sudoeste, e se se estava animado por 10 minis e uns bafos num cigarro estranho que estava a passar por todos os ocupantes da carruagem, claro que a viagem deve ter sido agradabilíssima, e a única coisa estranha a relatar era o facto de se ver elefantes cor-de-rosa a pastar nas planas paisagens alentejanas.
Por outro lado, se a sua experiência se cinge a uma viagem nocturna feita num moderno Alfa Pendular até ao Porto para ir ver o um jogo de bola, ou ir curtir a noite tripeira, claro que a sua disposição é a melhor possível, especialmente se viajar com amigos. A única dor que sentirá, depois de regressar no mesmo comboio para baixo, será a dor de cabeça consequente dos abusos etílicos, e nunca atribuirá culpas ao desconfortável (pseudo) encosto para a cabeça dos bancos do comboio.
Mas, aqui fica uma advertência: se por acaso estiver com uma dor rectal e com alguma incontinência anal, meu caro amigo, não culpe a CP, muito menos a bebedeira, ou as tripas à moda do Porto que comeu numa tasca da zona ribeirinha. O motivo pode ser outro. Lembre-se de que cada vez mais há por aí um vírus que se transmite de um modo peculiar, que é um tipo ir à casa de banho e sentar-se na cagadeira quando ainda lá está outro gajo… Cuidado. Desconfie…
Resumindo, se nunca viajou frequentemente na linha de Sintra, se nunca teve que utilizar os comboios da referida linha para ir trabalhar ou estudar, ou simplesmente para a borga no Bairro Alto, então, nesse caso, o meu amigo está à margem e perfeitamente alheado daquele que posso considerar como um dos maiores flagelos deste nosso Portugal.
É que só quem experimenta ir pela madrugada, ensonado e rameloso, até à estação, quem sofre as intempéries matinais enquanto aguarda pelo comboio, quem observa o olhar papudo e mortiço da populaça que partilha consigo essa longa espera, e depois apanha, finalmente, o comboio, só quem vive tudo isto habitualmente é que entende porque é que milhares de tugas preferem secar nas bichas, perdão, filas – não quero que ninguém se ofenda – habituais no já mítico IC-19.
Mas o melhor deste dia-a-dia é a entrada no referido meio de transporte e tudo o que se segue. Várias questões merecem ser levantadas:
Primeira: se toda a gente faz fila na estação, porque é que há sempre pessoal que finge estar a dormir, ou apenas ser distraído, e insiste em passar à frente da maralha para papar o único lugar vago?
Segunda: porque é que normalmente, quem faz isso são sempre indivíduos de África, ou então tipas entre os 40 e os 50, com um saquinho ou outro em cada mão, afogueadas e rosadas, e com uma respiração que faz lembrar um qualquer animal selvagem depois de correr pela savana?
(Atenção, não quis ofender nenhum animal – que isso fique bem claro!)
Terceira: Ao entrar, porque é que toda a gente se quer sentar de frente para o sentido do comboio, ou seja, como se fosse num carro? Esta é uma questão bem curiosa. Se repararem, nos lugares de lado, junto às portas interiores, ninguém gosta de ir (à excepção de estudantes, o que também é peculiar…), e de costas para o sentido do comboio muito menos! Num destes dias, quase todos os lugares da carruagem estavam livres e eu, imprudentemente, sentei-me a favor do rumo que o comboio levava. Na próxima paragem, uma velha bafienta entra no comboio e senta-se mesmo ao meu lado. Ó que grande merda, que gaita de azar – pensei eu. Não, nada disso. Na realidade, eu é que tinha sido pouco atencioso. Efectivamente, todas as cadeiras na direcção do comboio estavam ocupadas.
Agora pergunto: será que ninguém reparou que todas as restantes cadeiras, aquelas que estavam de lado e na direcção oposta, estavam livres?!?!
Irra!
Eu sei que está frio, mas recuso-me a pensar que a velhinha se queria aquecer, ou que o meu sex appeal é de tal maneira potente que até as velinhas não me conseguem resistir.
Deve de haver algo muito mais obscuro.
Excede-me.
Adiante.
Quarta: será que alguém me consegue explicar porque é que há tipos que mesmo com o comboio a deitar por fora insistem em transitar de uma carruagem para a outra? O que é que eles procuram?! Não há lugares, meus amigos! Isso é óbvio. Então porque andar a pisar e a chatear a malta toda? Que interesse sórdido está por de trás deste tipo de comportamento? Querem roçar-se nas tipas e não arranjam melhor maneira, é?
Recuso-me a pensar que, muito provavelmente, as pessoas que fazem estas deambulações pelo comboio justifiquem estas passeatas por motivos geográficos. O que quero dizer com isto? Que as pessoas pensem: ah, deixa-me ir andando para a frente porque a porta da frente, junto ao maquinista, pára junto à saída da estação…
Meus caros: entendam uma coisa: o caminho que vocês fazem dentro do comboio é exactamente o mesmo que teriam que fazer se não se divertissem a pisar os calos da malta. Para os que não sabem matemática, acreditem em mim, por favor. Para os mais cépticos, levem uma fita métrica.
Mas, por favor, parem de andar de um lado para o outro dentro do comboio!
(As restantes questões excedem o contexto do comboio, mas quando nele inseridas tomam proporções mefistofélicas.)
Quinta: o caso dos putos. Todos sabemos que os bancos dos comboios são apertadinhos e muito próximos uns dos outros. Se querem saber, julgo que isso é uma estratégia da CP (a pedido do estado e talvez até da Igreja também – muito obscuras são as ligações entre estas duas entidades…) promover o contacto entre as pessoas e, consequentemente, aumentar a possibilidade de haver novos casais e novos nados. Ou então, não.
Seja como for, a anatomia dos bancos e a sua disposição, que são inerentemente más, acabam por originar um problema que faz muito boa gente perder a paciência e sentir vontade de partir para a violência – efeito bem contrário ao objectivado pela estratégia da CP, do estado e da Igreja. É que, quando há putos “ao barulho”, nomeadamente crianças entre os 3 e os 6 anos, que embora estejam ramelosos e sonolentos, manifestam paradoxalmente uma pica desmesurada, a situação torna-se bastante incómoda. (Eh pá! Tenho que ter mais atenção ao que escrevo! Nos dia de hoje, pode ser bem “prejudicial à saúde” escrever na mesma frase as palavras “crianças” e “pica”, como acabo de fazer. Peço ao meu leitor que substitua “pica” por “energia”, ok? Não volta a acontecer, Sr. Provedor – não se incomode a colocar-me sob escuta, ok?)
Realmente, quando um tipo vai de fato completo para o trabalho, tem as pálpebras pesadas como chumbo e a única coisa que quer é fechar os olhos e pensar na brasileira morenaça que protagonizava o filme de ontem à noite no Sexy Hot, tudo este belo cenário de paz e sossego pode ser incomodado por uma criancinha que nos espezinha o fato com as suas botas sujas de lama, que nos atira para cima o brinquedo, e que, quando nos baixamos para apanhar o dito brinquedo que entretanto caíra para o chão, atira sobre nós várias questões de rajada.
Pois é, o amigo até pode olhar para a mãe da criança a pedir surdamente que ela domine o rebento, mas a indiferença ou até um perverso sentimento de “isso, fode o juízo ao senhor; deixa a mãe descansar um pouco” fazem com que isso nunca aconteça. O fato fica marcado com o logótipo da Chicco, extraído directamente da sola dos sapatinhos da criança, e nós perdemos o tino à tal brasileira de ontem.
Uma desgraça.
Avanço aqui com uma ideia: fazer um abaixo-assinado para proibir a entrada nos comboios a menores, como num bom cinema de filmes pornográficos.
Aqui fica a minha proposta.
Sexta: imagine-se a dormitar no comboio. Conseguiu um lugar calmo, sabiamente localizado contra o sentido do comboio, a carruagem até está pouco cheia e você até consegue abstrair-se do sítio onde está e imaginar-se algures numa praia solarenga e com muitas beldades em biquini. O que poderá estragar este cenário? Simples: dois africanos que entram a conversar e se sentam na mesma carruagem onde você está. Repare que nem precisam estar muito perto. O simples facto de estarem a conversar é o suficiente.
Fascina-me o porquê do volume das conversas entre africanos. Não havendo nada de fonético nos falares africanos que explique o intenso volume, é para mim um mistério sobre a magnitude que uma conversa, por mais quotidiana que seja, consegue atingir. Será que têm receio de que a pessoa que está ao lado deles não os oiça? Duvido, visto toda a gente na carruagem conseguir seguir a conversa.
É um verdadeiro mistério.
Agradeço que me enviem hipóteses explicativas.
Sétima: bom, ainda no tema dos decibéis elevados, imagine-se sentado numa carruagem calmamente vazia. Estranhamente, só você e mais dois ou três gatos-pingados. Os olhos pesam, a brasileira do filme de ontem rodopia em volúpia na sua mente…
De repente, a música do hino da RTP. Mas está diferente. Você pensa: estou a sonhar… é a Tv… deixei a Tv ligada ontem à noite e agora os putos quando forem brincar vão catar a brasuca do filme…
‘TOU! – Bruscamente e sem preparação, você dá um salto e apercebe-se de que o indivíduo que está defronte de si está a iniciar uma conversa ao telemóvel.
“SIM, FILHA”… Por mais que queira… “NÃO, FILHA”… é impossível pensar noutra coisa… “TENS DE SER TU A IRES BUSCAR A MIÚDA AO COLÉGIO”… muito menos alhear-se da conversa em curso… “POIS, TENS DE SER TU”… por menos interessante que ela seja. “NÃO, É QUE A GENTE VAMOS VER A BOLA NO CAFÉ DO Sr. PERES”…Você olha para a janela, mas ainda é escuro… “Ó FILHA, É O GLORIOSO!”... e por isso ela só reflecte a imagem do tipo que fala ruidosamente ao telemóvel. “MAS É O GLORIOSO CONTRA A LAGARTAGEM – QUERO VER, FILHA”… Por mais que tente pensar na brasileira do filme… “E O TEU PAI?!”… a única coisa que fica molhada no seu corpo é mesmo a sua cara, “SEI LÁ DO TEU PAI! NÃO O VOU BUSCAR – O TIPO É LAGARTO!”… vítima do indivíduo estar cada vez mais exaltado… “ACHAS QUE ESTOU A SER INJUSTO CONTIGO?!”… e a falar cada vez mais alto… “OLHA, QUERES QUE TE DIGA UMA COISA?”… e que agora cita alguém mais ou menos conhecido: “TOU-MA CAGAR PARA O TEU PAI, FODA-SE!”
Como o meu caro leitor pode constatar, é um admirável mundo novo a que se acede quando entramos num comboio.
Imagino que quem não tenha o hábito ou a necessidade de andar de comboio se esteja, muito compreensivelmente, a roer de inveja de quem anda…
Ou então, não.
Mas antes de me ir embora, e porque aquela ideia do abaixo-assinado que acima referi pode mesmo ir avante, deixei-me dar mais uma ideia: que tal se nesse abaixo-assinado defendesse-mos também a substituição de Simara por Jô Soares no nosso panorama artístico. Em termos de peso andará ela por ela, e relativamente à utilidade, além libertarmos o cenário musical português de mais uma parasita sem qualidade, conseguiríamos mais um artista para fazer rir este Portugal que tanto anda tristonho e cabisbaixo.
Ah, e já agora, que acham que fizermos uma troca desigual, tipo dois-em-um, e mandar-mos Simara e Roberto Leal (de vez) para o Brasil e só pedirmos o Gordo em troca. Provavelmente, os brasileiros pensariam que estávamos a ser generosos, já que se trocava 2 por 1, e nós ficávamos mais contentes, com os ouvidos mais poupados, e sem ter de ouvir a paneleirices do Roberto Leal.
Que vos parece?
jvoc@gawab.com
Este texto pretende apresentar alguns dos problemas que quem circula nos comboios da linha de Sintra enfrenta, e almeja igualmente deixar alguns tópicos à reflexão dos meus leitores.
Para quem só andou de comboio uma ou outra vez na vida, essa escassa experiência é relembrada como algo agradável e até epicamente belo. Por exemplo, se só se viajou uma vez de comboio e essa viagem foi feita a caminho do Festival do Sudoeste, e se se estava animado por 10 minis e uns bafos num cigarro estranho que estava a passar por todos os ocupantes da carruagem, claro que a viagem deve ter sido agradabilíssima, e a única coisa estranha a relatar era o facto de se ver elefantes cor-de-rosa a pastar nas planas paisagens alentejanas.
Por outro lado, se a sua experiência se cinge a uma viagem nocturna feita num moderno Alfa Pendular até ao Porto para ir ver o um jogo de bola, ou ir curtir a noite tripeira, claro que a sua disposição é a melhor possível, especialmente se viajar com amigos. A única dor que sentirá, depois de regressar no mesmo comboio para baixo, será a dor de cabeça consequente dos abusos etílicos, e nunca atribuirá culpas ao desconfortável (pseudo) encosto para a cabeça dos bancos do comboio.
Mas, aqui fica uma advertência: se por acaso estiver com uma dor rectal e com alguma incontinência anal, meu caro amigo, não culpe a CP, muito menos a bebedeira, ou as tripas à moda do Porto que comeu numa tasca da zona ribeirinha. O motivo pode ser outro. Lembre-se de que cada vez mais há por aí um vírus que se transmite de um modo peculiar, que é um tipo ir à casa de banho e sentar-se na cagadeira quando ainda lá está outro gajo… Cuidado. Desconfie…
Resumindo, se nunca viajou frequentemente na linha de Sintra, se nunca teve que utilizar os comboios da referida linha para ir trabalhar ou estudar, ou simplesmente para a borga no Bairro Alto, então, nesse caso, o meu amigo está à margem e perfeitamente alheado daquele que posso considerar como um dos maiores flagelos deste nosso Portugal.
É que só quem experimenta ir pela madrugada, ensonado e rameloso, até à estação, quem sofre as intempéries matinais enquanto aguarda pelo comboio, quem observa o olhar papudo e mortiço da populaça que partilha consigo essa longa espera, e depois apanha, finalmente, o comboio, só quem vive tudo isto habitualmente é que entende porque é que milhares de tugas preferem secar nas bichas, perdão, filas – não quero que ninguém se ofenda – habituais no já mítico IC-19.
Mas o melhor deste dia-a-dia é a entrada no referido meio de transporte e tudo o que se segue. Várias questões merecem ser levantadas:
Primeira: se toda a gente faz fila na estação, porque é que há sempre pessoal que finge estar a dormir, ou apenas ser distraído, e insiste em passar à frente da maralha para papar o único lugar vago?
Segunda: porque é que normalmente, quem faz isso são sempre indivíduos de África, ou então tipas entre os 40 e os 50, com um saquinho ou outro em cada mão, afogueadas e rosadas, e com uma respiração que faz lembrar um qualquer animal selvagem depois de correr pela savana?
(Atenção, não quis ofender nenhum animal – que isso fique bem claro!)
Terceira: Ao entrar, porque é que toda a gente se quer sentar de frente para o sentido do comboio, ou seja, como se fosse num carro? Esta é uma questão bem curiosa. Se repararem, nos lugares de lado, junto às portas interiores, ninguém gosta de ir (à excepção de estudantes, o que também é peculiar…), e de costas para o sentido do comboio muito menos! Num destes dias, quase todos os lugares da carruagem estavam livres e eu, imprudentemente, sentei-me a favor do rumo que o comboio levava. Na próxima paragem, uma velha bafienta entra no comboio e senta-se mesmo ao meu lado. Ó que grande merda, que gaita de azar – pensei eu. Não, nada disso. Na realidade, eu é que tinha sido pouco atencioso. Efectivamente, todas as cadeiras na direcção do comboio estavam ocupadas.
Agora pergunto: será que ninguém reparou que todas as restantes cadeiras, aquelas que estavam de lado e na direcção oposta, estavam livres?!?!
Irra!
Eu sei que está frio, mas recuso-me a pensar que a velhinha se queria aquecer, ou que o meu sex appeal é de tal maneira potente que até as velinhas não me conseguem resistir.
Deve de haver algo muito mais obscuro.
Excede-me.
Adiante.
Quarta: será que alguém me consegue explicar porque é que há tipos que mesmo com o comboio a deitar por fora insistem em transitar de uma carruagem para a outra? O que é que eles procuram?! Não há lugares, meus amigos! Isso é óbvio. Então porque andar a pisar e a chatear a malta toda? Que interesse sórdido está por de trás deste tipo de comportamento? Querem roçar-se nas tipas e não arranjam melhor maneira, é?
Recuso-me a pensar que, muito provavelmente, as pessoas que fazem estas deambulações pelo comboio justifiquem estas passeatas por motivos geográficos. O que quero dizer com isto? Que as pessoas pensem: ah, deixa-me ir andando para a frente porque a porta da frente, junto ao maquinista, pára junto à saída da estação…
Meus caros: entendam uma coisa: o caminho que vocês fazem dentro do comboio é exactamente o mesmo que teriam que fazer se não se divertissem a pisar os calos da malta. Para os que não sabem matemática, acreditem em mim, por favor. Para os mais cépticos, levem uma fita métrica.
Mas, por favor, parem de andar de um lado para o outro dentro do comboio!
(As restantes questões excedem o contexto do comboio, mas quando nele inseridas tomam proporções mefistofélicas.)
Quinta: o caso dos putos. Todos sabemos que os bancos dos comboios são apertadinhos e muito próximos uns dos outros. Se querem saber, julgo que isso é uma estratégia da CP (a pedido do estado e talvez até da Igreja também – muito obscuras são as ligações entre estas duas entidades…) promover o contacto entre as pessoas e, consequentemente, aumentar a possibilidade de haver novos casais e novos nados. Ou então, não.
Seja como for, a anatomia dos bancos e a sua disposição, que são inerentemente más, acabam por originar um problema que faz muito boa gente perder a paciência e sentir vontade de partir para a violência – efeito bem contrário ao objectivado pela estratégia da CP, do estado e da Igreja. É que, quando há putos “ao barulho”, nomeadamente crianças entre os 3 e os 6 anos, que embora estejam ramelosos e sonolentos, manifestam paradoxalmente uma pica desmesurada, a situação torna-se bastante incómoda. (Eh pá! Tenho que ter mais atenção ao que escrevo! Nos dia de hoje, pode ser bem “prejudicial à saúde” escrever na mesma frase as palavras “crianças” e “pica”, como acabo de fazer. Peço ao meu leitor que substitua “pica” por “energia”, ok? Não volta a acontecer, Sr. Provedor – não se incomode a colocar-me sob escuta, ok?)
Realmente, quando um tipo vai de fato completo para o trabalho, tem as pálpebras pesadas como chumbo e a única coisa que quer é fechar os olhos e pensar na brasileira morenaça que protagonizava o filme de ontem à noite no Sexy Hot, tudo este belo cenário de paz e sossego pode ser incomodado por uma criancinha que nos espezinha o fato com as suas botas sujas de lama, que nos atira para cima o brinquedo, e que, quando nos baixamos para apanhar o dito brinquedo que entretanto caíra para o chão, atira sobre nós várias questões de rajada.
Pois é, o amigo até pode olhar para a mãe da criança a pedir surdamente que ela domine o rebento, mas a indiferença ou até um perverso sentimento de “isso, fode o juízo ao senhor; deixa a mãe descansar um pouco” fazem com que isso nunca aconteça. O fato fica marcado com o logótipo da Chicco, extraído directamente da sola dos sapatinhos da criança, e nós perdemos o tino à tal brasileira de ontem.
Uma desgraça.
Avanço aqui com uma ideia: fazer um abaixo-assinado para proibir a entrada nos comboios a menores, como num bom cinema de filmes pornográficos.
Aqui fica a minha proposta.
Sexta: imagine-se a dormitar no comboio. Conseguiu um lugar calmo, sabiamente localizado contra o sentido do comboio, a carruagem até está pouco cheia e você até consegue abstrair-se do sítio onde está e imaginar-se algures numa praia solarenga e com muitas beldades em biquini. O que poderá estragar este cenário? Simples: dois africanos que entram a conversar e se sentam na mesma carruagem onde você está. Repare que nem precisam estar muito perto. O simples facto de estarem a conversar é o suficiente.
Fascina-me o porquê do volume das conversas entre africanos. Não havendo nada de fonético nos falares africanos que explique o intenso volume, é para mim um mistério sobre a magnitude que uma conversa, por mais quotidiana que seja, consegue atingir. Será que têm receio de que a pessoa que está ao lado deles não os oiça? Duvido, visto toda a gente na carruagem conseguir seguir a conversa.
É um verdadeiro mistério.
Agradeço que me enviem hipóteses explicativas.
Sétima: bom, ainda no tema dos decibéis elevados, imagine-se sentado numa carruagem calmamente vazia. Estranhamente, só você e mais dois ou três gatos-pingados. Os olhos pesam, a brasileira do filme de ontem rodopia em volúpia na sua mente…
De repente, a música do hino da RTP. Mas está diferente. Você pensa: estou a sonhar… é a Tv… deixei a Tv ligada ontem à noite e agora os putos quando forem brincar vão catar a brasuca do filme…
‘TOU! – Bruscamente e sem preparação, você dá um salto e apercebe-se de que o indivíduo que está defronte de si está a iniciar uma conversa ao telemóvel.
“SIM, FILHA”… Por mais que queira… “NÃO, FILHA”… é impossível pensar noutra coisa… “TENS DE SER TU A IRES BUSCAR A MIÚDA AO COLÉGIO”… muito menos alhear-se da conversa em curso… “POIS, TENS DE SER TU”… por menos interessante que ela seja. “NÃO, É QUE A GENTE VAMOS VER A BOLA NO CAFÉ DO Sr. PERES”…Você olha para a janela, mas ainda é escuro… “Ó FILHA, É O GLORIOSO!”... e por isso ela só reflecte a imagem do tipo que fala ruidosamente ao telemóvel. “MAS É O GLORIOSO CONTRA A LAGARTAGEM – QUERO VER, FILHA”… Por mais que tente pensar na brasileira do filme… “E O TEU PAI?!”… a única coisa que fica molhada no seu corpo é mesmo a sua cara, “SEI LÁ DO TEU PAI! NÃO O VOU BUSCAR – O TIPO É LAGARTO!”… vítima do indivíduo estar cada vez mais exaltado… “ACHAS QUE ESTOU A SER INJUSTO CONTIGO?!”… e a falar cada vez mais alto… “OLHA, QUERES QUE TE DIGA UMA COISA?”… e que agora cita alguém mais ou menos conhecido: “TOU-MA CAGAR PARA O TEU PAI, FODA-SE!”
Como o meu caro leitor pode constatar, é um admirável mundo novo a que se acede quando entramos num comboio.
Imagino que quem não tenha o hábito ou a necessidade de andar de comboio se esteja, muito compreensivelmente, a roer de inveja de quem anda…
Ou então, não.
Mas antes de me ir embora, e porque aquela ideia do abaixo-assinado que acima referi pode mesmo ir avante, deixei-me dar mais uma ideia: que tal se nesse abaixo-assinado defendesse-mos também a substituição de Simara por Jô Soares no nosso panorama artístico. Em termos de peso andará ela por ela, e relativamente à utilidade, além libertarmos o cenário musical português de mais uma parasita sem qualidade, conseguiríamos mais um artista para fazer rir este Portugal que tanto anda tristonho e cabisbaixo.
Ah, e já agora, que acham que fizermos uma troca desigual, tipo dois-em-um, e mandar-mos Simara e Roberto Leal (de vez) para o Brasil e só pedirmos o Gordo em troca. Provavelmente, os brasileiros pensariam que estávamos a ser generosos, já que se trocava 2 por 1, e nós ficávamos mais contentes, com os ouvidos mais poupados, e sem ter de ouvir a paneleirices do Roberto Leal.
Que vos parece?
jvoc@gawab.com