Blog do Homem Estupendo

O "blog" de um homem que é tudo menos estupendo...

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quarta-feira, junho 16, 2004

Algumas reflexões sobre as eleições

Resultados EU2004

Nova Democracia 1%
Partido Popular Monárquico 0.46%
Partido Nacional Renovador 0.24%
Força Portugal 33.26%
Bloco de Esquerda 4.92%
Partido Democrático do Atlântico 0.16%
Partido da Terra 0.4%
Coligação Democrática Unitária 9.10%
Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses 1.06%
Partido Socialista 44.52%
Partido Humanista 0.39%
Movimento pelo Doente 0.4%
Partido Operário de Unidade Socialista 0.13%

Ora é sobre os resultados das últimas eleições que aqui "arroto a minha posta":

1) Parece-me bem peculiar o facto de haver 9 partidos que nem chegaram aos 2%. Talvez devesse haver uma lei que obrigasse à dissolução de todo e qualquer partido que não obtivesse mais do que 2%, embora isto levantasse importantes questões democráticas e, provavelmente, ainda aumentasse mais a abstenção. Ou então não...

2) Parece-me bem claro que o povo que votou mostrou ao governo o cartão amarelo de que tanto falou Ferro Rodrigues. O povinho não anda satisfeito com o "Cherne" e fez questão de o demonstrar, embora estas eleições não influenciem em nada a política governamental. No entanto, creio que algo perverso acontecerá: teremos uma política de charme e recuperação de voto até às próximas eleições; podem crer que o "Cherne" e a sua equipa serão mais simpáticos muito em breve, desdobrando-se em políticas imediatas de contentamento público, mesmo que sejam verdadeiros erros a longo prazo. Lembram-se do Guterres?...

3) Mais do que o cartão amarelo mostrado, as eleições saldaram-se com uma vitória geral da esquerda. Os três principais partidos de esquerda aumentaram as suas representações no parlamento europeu, ou seja, aumentaram as suas percentagens de votantes. No entanto, parece inegável que estamos perante uma oscilação entre esquerda e direita que aparentemente se afigura cada vez mais cíclica, e pouco mais significado haverá a inferir desta inegável derrota da direita face à esquerda.

4) Uma palavra final acerca da abstenção: ela traduziu o cada vez maior alheamento da população portugesa pelas questões políticas. É que não foi só nestas eleições que se registou uma elevada taxa de abstenção - tem sido assim quase sempre, nos últimos tempos. Daqui se infere que a distância entre as instituições democráticas e o povo aumenta, bem como a impossibilidade de a população se rever nos políticos que (teoricamente) a representam. Em suma, creio que uma abstenção crescente evidencia uma crise democrática geral e alarmante, uma vez que a distância entre povo e política se torna abissal e, consequentemente, o poder não fica nas mãos do povo e será cada vez menos pelo povo.

Mas atenção, há duas notas a salientar: primeiro, a culpa deste problema não é exclusivamente da população, pois aos políticos e ao baixo nível que espalham pelas instituições democráticas se deve atribuir também uma grande parte da responsabilidade, ainda que haja uma quota elevada de alhemento político da parte do povo, o que constitui uma motivo primordial e extremamente grave para a crise da democracia em Portugal.

Segundo, e, provavelmente, ainda mais alarmante: esta crise política e democrática parece espalhar-se por toda a Europa atendendo às taxas de abstenção dos 25 países da UE. É que, feitas as contas, a nossa taxa de abstenção até nem foi das piores.

quinta-feira, junho 10, 2004

Orgulho em ser português?

Eu não ponho uma bandeira de Portugal na minha janela, no meu carro, seja lá onde for. Aliás, acho uma verdadeira palhaçada fazê-lo.

Anti-patriota, eu?

Eu não, meus caros.

Anti-patriotas são aqueles que não vão votar este domingo para ver a bola na TV, ou porque foram 4 dias à terrinha;

Anti-patriotas são aqueles que colocam a tal bandeirinha, mas que nem sabem nomear o feriado de 10 de Junho – (“Fernando Pessoa, Portugal, e mais umas coisas “quaisqueres”, não é?!”)

Anti-patriotas são aqueles que compram todos os dias A Bola, O Record ou O Jogo só para saberem que a jovem promessa Chico Zé vai para o Benfica, ou que o Tó Carlos é a nova estrela de Alvalade, e jamais lhes passa pela cabeça comprar o Público ou o Expresso só para saberem efectivamente o que se passa nesta merda de país;

Anti-patriotas são aqueles que sabem o nome completo do Pauleta, ou mesmo de um qualquer jogador do F. C. Porto B emprestado ao Gondomar, mas que desconhecem o nome do Ministro da Cultura, ou o da cabeça de lista da CDU às europeias;

Anti-patriotas são aqueles que dizem “isto anda muito mal” ou ainda “eles só andam a roubar: aquela ministra é muito má para a gente” e que nada fazem individualmente para que isto fique melhor, ou para que “eles” deixem de roubar, ou para (tentar) compreender o porquê de certas acções governamentais;

Anti-patriotas são aqueles que só conhecem o nome Sousa Franco porque o infeliz morreu, e não por ter sido um excelente ministro das finanças de dois governos e um secretário de estado competente de um outro, ou por ser até à sua morte o cabeça de lista do PS para as europeias;

Anti-patriotas são aqueles que publicitam, alto e a bom som e com um sotaque forçado e estupidamente altivo, que na França não se cospe para o chão, ou que no Luxemburgo não há papéis no chão, e que logo a seguir, uns metros mais à frente do local onde proferiram estas inflamadas críticas à nação, escarram violentamente para a via pública e deitam o extracto do Multibanco para o chão (muitas vezes com um caixote do lixo mesmo ao lado);

E eu é que só anti-patriota por não ter a puta da bandeirinha na janelinha do carro?

terça-feira, junho 08, 2004

Mamas e D. Duarte…

Meus caros amigos, hoje trago-vos um verdadeiro achado. Ofereço-vos uma pérola da nossa literatura, pérola essa que constitui uma prova incontornável da angústia provocada por uma questão realmente intemporal, a que vou chamar: “as mamas da minha amiga, são sempre melhores do que as minhas”.

Calma, não estou preocupado com as minhas; estou sim a nomear uma inquietação invejosa que toda e qualquer gaja parece ter.

Porém, minhas amigas, não procurem mais nas bibliotecas nem nas revistas femininas da Impala. Dêem descanso aos cirurgiões plásticos, e deixem o silicone para revestir os azulejos das nossas casas-de-banho.

El rei D. Duarte, esse grande sabichão, apresenta a solução num texto que agora transcrevo com a grafia da época.

Deliciem-se!

“Mezinha pêra as tetas das molheres quando parirem, y non só
Tomem mynhocas e frijam nas em manteigua e ponham emprasto sobre as mamas e outro antre as espadoas, esto fação tres diaspoendo cada dia emprasto nouo.
Tomem raízes d’abroteas e pysem nas e delyem nas com olio de maçela e ponham antre as espadoas.
Tomem semente d’algodom e façam dela po e amassem com vinagre e ponham emprasto sobre as mamas três dias.”
1423-1438


(Há um texto de um aio de D. Duarte que refere que o rei era um verdadeiro santo curandeiro e que estava sempre pronto a aplicar esta mezinha nas mulheres que o requisitavam.

Isto é que é verdadeira disponibilidade e nobreza de espírito.

Ou então não…

Que saudades deste D. Duarte, face ao Duarte que temos hoje…)

sábado, junho 05, 2004

Da sinceridade e da espontaneidade…

Uma boa amiga minha, aqui há uns tempos, já nem sei bem a propósito de quê, pediu-me uns conselhos sobre uma situação aflitiva que na altura vivia. Tentando sempre ser prestável, dei-lhe inocentemente um dos conselhos mais matreiros que alguma vez se pode dar: “sê mais sincera contigo mesma e diz o que te vier à cabeça, quando te vier!”

Sem o saber estava a dar-lhe uma arma cujo poder destrutivo se pode comparar ao de muitas bombas de neutrões…

Claro que isto de ser sincero e honesto é muito bonito, mas, se for levado ad nauseum, resulta mal. Basicamente, o que quero dizer é que sinceridade e espontaneidade combinadas resultam numa mistura absolutamente explosiva.

Atentemos no seguinte exemplo:

Imaginem que estão a tentar engatar uma miúda que conheceram há pouco tempo. Marcaram um encontro e lá foram ter os dois ao local combinado. Ora se forem completamente sinceros e espontâneos, então dirão logo que lhes vier à cabeça! Já começo a imaginar um possível diálogo:

- Olá!
- Oi, tudo bem?
- Olha, parecias-me muito mais bonita quando te conheci naquela discoteca…
- Pois, eu também posso dizer o mesmo.
- É o que dá meter-me nos copos…
- E eu tinha perdido as minhas lentes de contacto…
- Realmente, eu tinha ideia que as tuas mamas eram bem maiores do que se me afiguram agora…
- E eu julgava que tu eras mais alto e que não tinhas um nariz desse tamanho! Bolas, és mesmo feio…
- O meu nariz pode ser grande e feio, mas não é nada comparado com o teu mau hálito, bolas! Fecha-me essa boca!

Chegado este momento, só tenho duas questões:

1)Quanto tempo duraria um encontro se fôssemos realmente sinceros e espontâneos?

2)Quem é que daria o primeiro estalo, ou quem é que estrangularia primeiro o outro?

Moral da história: vamos todos mentir ou, pelo menos, omitir, que é, aliás, o que mais fazemos actualmente...

E, pelos vistos, ainda bem...

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