Manta Rota, em Setembro
ou então é o barulho dos homens que se lhes sobrepõe.
A neblina das sete aqui está,
sustendo o calor matinal que já quer irromper,
por de trás das poucas nuvens baixas que se aliam ao horizonte.
Velhos e netos, ou pais e recém-nascidos, com invejável vagar,
vão, serenamente, até à praia,
e acordam algumas surpreendidas gaivotas que dormiram até mais tarde.
Quando o sol pica nas cabeças dos desprevenidos,
os que estavam na praia dão lugar a jovens para quem a noite findou há pouco,
e a casais apaixonados, que romanticamente se embrenham nas dunas,
descobrindo sem pudor os seus corpos.
Esta é a hora em que o calor sensualiza os disponíveis para amar,
e fustiga as peles morenas e cansadas dos conquilheiros que chegam para a faina.
Entretanto, o sol já permite o regresso daqueles que o gozam com moderação,
e os pescadores e conquilheiros, que já não têm a maré de feição,
abandonam a praia, com baldes de vida que mais tarde será petisco.
Ao ocaso, os casais e os velhos cedem os lugares às gaivotas que procuram um poiso para pernoitar,
embora um cão, mais com curiosidade do que com maldade, corra atrás delas.
O mar, aproveitando a lua cheia e o equinócio que se aproxima,
galga areias que já não beijava há um ano,
como que resmungando de tantos banhistas que o usaram,
e querendo enxotar os poucos que ainda o abraçam.
Quase sem se dar por isso, o sol já tombou sobre Cacela Velha,
facto que faz o céu ficar pintado de exuberantes cores cerúleas,
enquanto os mosquitos procuram abrigo nas dunas.
Sob os voos rasantes das andorinhas e das gaivotas,
regressamos a casa, pois é hora do jantar,
estando sempre acompanhados pelo índigo celeste.
Por fim, quando a noite cai e o céu estrelado impera,
a temperatura dá-nos descanso,
e, ao longe, tudo o que ouvimos é o mar.
Pouco depois, os grilos e as cigarras juntam as suas melodias à do mar
e, como que por magia, somos embalados em sonhos paradisíacos.
1 Comments:
Eu ouvi dizer que estava a choviscar...
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