Uma das actividades que proponho aos meus formandos pede que eles opinem sobre o que é ser português. Esta actividade é introduzida por uma banda desenhada, na qual, mordazmente, se aponta um dos traços bem distintivos do vulgar “tuga”: o hábito de dizer mal de nós próprios, de nos denegrirmos, e de sermos pessimistas, embora, se for um estrangeiro a dizer mal de nós, bom, aí tudo muda e nós somos os maiores.
É curioso notar que (quase todos) os meus formandos rejeitam esta ideia. Então seria de esperar textos bem optimistas e que valorizassem o que somos e o que por cá se faz, mas tal raramente acontece. Penso que, de facto, os textos que leio confirmam a ideia da BD.
Porém, há outros traços que, creio, hoje em dia caracterizam melhor o português. Para além do chavão de sermos maus condutores, de nos desvalorizarmos, de andarmos sempre taciturnos e a cantar o fado, julgo que hoje temos outras coisas que nos descrevem melhor.
Da minha responsabilidade, identifico facilmente três, que são as seguintes:
Não temos dinheiro, não temos tempo, e estamos sempre cansados. Ou melhor: DIZEMOS que não temos dinheiro, que não temos tempo, e que estamos sempre cansados.
Com efeito, como é possível haver pessoas que trabalham apenas algumas horas por dia, serviços fáceis em que não puxam pela cabeça nem pelo físico, que passam a vida a ver televisão, ou a falar pela net, e mesmo assim clamam constantemente que estão cansadas?
Como é que posso aceitar que haja pessoas que passem 8 horas no trabalho, mas só 3 ou 4 a trabalhar efectivamente, e que depois ainda tenham o grande cinismo que praguejar constantemente, dizendo que têm tido muito trabalho?
E como é que poderei compreender que pessoas que ganham bem, dinheiro certo, que compram motos, móveis, artigos perfeitamente desnecessários que mais não são do que expressões de riqueza supérfluas, tenham a lata de se queixar de dez em dez minutos que não têm dinheiro?
Porém, é este tipo de pessoa que nós vemos hoje em dia; o típico português é este fulano, aparentemente paradoxal, mas que na realidade nem se dá conta de o ser e da paupérrima e insuportável imagem que transmite. Com efeito, o “tuga” é assim:
(Diz que) não tem dinheiro, mas nunca deixa de ir ao café três vezes ao dia, de comprar o último telemóvel que saiu, de possuir um carro, e de dar 60 euros ou mais pelo concerto dos U2;
(Diz que) anda sempre cansado do trabalho, mas à sexta-feira à noite é até o sol nascer, a dançar e a beber, e pelo meio da semana ainda conseguiu almoçar em duas horas, em vez da uma permitida pelo horário, para já não falar dos intervalos para o café, para o bolo, para o iogurte e para o chá; ah, e dos habituais atrasos – do trânsito – e das saídas mais cedo – que (nunca) são sempre pontuais;
Para completar, só falta de dizer que português que é português adora o tunning, a selecção e falar mal dos políticos, como se os políticos não fossem também portuguesinhos e animais como nós…
Agora, meus amigos, enfiem a carapuça, se tiverem essa coragem.
6 Comments:
Essa carapuça não enfio! Admito queixar-me mais do que devia, mas a verdade é que não ganho tão bem quanto merecia, tenho pouco tempo livre e, por vezes, sinto-me cansada. Quanto aos gastos supérfluos - como tu dizes - também os tenho, são formas de distração. Cada um com as suas. Há quem escreva blogues - porque tem tempo - e há quem goste de comprar coisas novas ou ir ao cinema, ao teatro ou a um concerto - porque pode e precisa.
Quanto às características "tugas" (palavra que odeio), julgo que a que melhor nos define é: esperteza saloia - sabemos sempre mais que os outros, mas fazemos sempre menos e se conseguirmos enganar alguém, melhor.
És grande! Sempre incisiva, e com justiça. Gosto
Grande, grande não serei... Mas sabe sempre bem perceber que alguém gosta do que escrevemos ou pensamos. Obrigada!
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