Blog do Homem Estupendo

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segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Sobre o Carnaval (2)

Ainda sobre essa bonita e festiva época que vivemos, convém relatar mais um fantástico acontecimento.

Estava eu a ver o Jornal da Tarde – que maravilha ouvir dizer “bintoito”, “dezouito” e “lídres” – quando mais uma excelente reportagem sobre o Carnaval chamou a minha atenção. Rita Marrafa de Carvalho – que para quem não sabe é uma tipa toda boa! – estava desta vez em Ovar e entrevistava mais um folião à portuguesa. A jornalista estava encafuada num valente casacão – qual alheira a querer transbordar da tripa! – e o entrevistado estava de T-shirt…

- Então conte lá, o que é que vamos poder ver no corso?
- Bem, vamos poder ver cor, animação, alegria, muita festa e divertimento…

(pergunta: como é que alguém pode ver animação? E alegria? Quem é essa gaja? E onde é que para o fulano que responde por divertimento. Já alguém viu estes tipos alguma vez? Será necessário informar este pessoal que nomes abstractos não são palpáveis e, por isso mesmo, não se vêem?!?! Aqui fica o meu reparo…)

- E não tem medo que a chuva e o frio estraguem a festa?
- Qual frio? Não está frio! E se Deus quiser não há-de chover…
- Mas olhe que a meteorologia prevê chuva para estes dias.
- …
- Para hoje e amanhã…
- Eu acredito que o povo de Ovar vai resistir à chuva e ao frio e vai sambar e festejar este Carnaval com muito calor.

(Ora bem, então depreende-se que o povo de Ovar vai munido de guarda-chuvas e sobretudos para o corso e que, mesmo com essas vestes, vai conseguir sambar. O calor vem depois, ou seja, depois de sambar de gabardines e casacões, e de estar a segurar os chapéus-de-chuva nas mãos. Isto parece-me óbvio. E o tipo tem realmente olho para a palavra…)

Mas, depois de mais algum paleio, cedo se percebeu qual era a grande atracção deste Carnaval. Muito mais do que carros alegóricos e gajas seminuas a dar ao cu – e, eventualmente, a dar também o cu – o que interessava o nosso folião era uma atracção fantástica: bater o recorde do Guiness do maior número de palhaços reunidos numa determinada e circunscrita área.

Nesta altura, o fulano entusiasmou-se, olhou a câmara de frente, entrou-nos dentro das salas e cozinhas onde temos os nossos televisores e fez um verdadeiro apelo à palhaçada:

- Ainda estão abertas as inscrições, pela net, ou nas juntas de freguesia do concelho, inscreva-se e venha bater o recorde do Guiness connosco.

O que se pode concluir daqui? Bom, primeiro que o número máximo de palhaços reunidos duma determinada área até hoje foi de oitocentos e tal. Pelo menos foi o que o simpático folião disse que consta no Guiness. Além disso, ficámos também a saber, como provou o entusiasmo do entrevistado, que o verdadeiro objectivo do nosso Carnaval é reunir um grande número de otários, perdão, de palhaços capazes de, à chuva e ao vento, mostrar “cor, animação, alegria, muita festa e divertimento” a quem quiser ou conseguir ver tais coisas.

Nestes Carnavais não me apanham. Mas, se quiserem, eu posso sugerir uns nomes para palhaços… Assim de repente, vêm-me logo à cabeça dois: Roberto Leal e Simara…
O meu leitor que sugira mais alguns. Faça a sua parte…

E, para rematar, uma conclusão muito triste: o que move o nosso país é… o Guiness. Sim, bater os recordes do Guiness é o objectivo último de qualquer português.

Lembram-se do Fairy na Ponte Vasco da Gama? Pronto, desde aí, o português ficou sempre a pensar que o Guiness dá sempre feijoada à transmontana nessas absurdas provas, e agora não pensa noutra coisa.

É triste viver num país em que tudo gira à volta de uma broa de milho que tem 400 metros – e lá vai o tuga comer a broa, ainda com esperança de mamar a feijoada do costume –, ou acerca de uma porrada de palhaços concentrados num dado espaço.

Aliás, penso que já batemos este recorde…

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