Blog do Homem Estupendo

O "blog" de um homem que é tudo menos estupendo...

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segunda-feira, fevereiro 23, 2004

A propósito da festiva época em que nos encontramos, apraz-me expressar aqui, neste espaço de tertúlia e discussão, algumas reflexões.
Quero começar por dizer que estou muito contente com a chuvinha que tem caído. O beato Pedro ouviu as minhas maldosas preces e resolveu lixar os pseudo-foliões portugueses que para aí andam a espalhar a sua quase contagiante alegria. Chuvinha e frio, pois então! O sacana do santo resolveu fodê-los bem… Gosto do sentido de humor dos tipos lá do céu.
Mas, além das adversidades atmosféricas que, convém dizê-lo porque há muito português que parece não sabê-lo, são PRÓPRIAS DESTA ÉPOCA, houve algo que me atraiu a atenção numa reportagem da RTP1 feita ao encarregado das festas de um destes Carnavais que para aí andam.
Imaginem o seguinte cenário: a objectiva do repórter de imagem captava a simpática jornalista e o entrevistado, um tipo qualquer que se julga no quentinho de Brasil e que tem vontade de despir miúdas e lembrou-se da desculpa do Carnaval para o (tentar) fazer; atrás destas duas sórdidas personagens, quatro meninas, por volta dos 12 anos – há por aí muita malta que lhes chamava um figo, mas eu prefiro deixá-las crescer… – tentavam abanar o rabos e pernas na perspectiva de imitarem aquela mulata que viram ontem à noite na TV na reportagem sobre o Carnaval do Rio, onde há calor – nunca é demais destacar as evidentes diferenças térmicas entre Portugal e Brasil; as perguntas eram as óbvias: não está com frio? (o tipo estava de t-shirt!) Não tem medo que as pessoas não apareçam? Não receia que a chuva estrague a festa? Por esta altura, as miúdas cansaram-se de se abanar e começaram a cochichar qualquer coisa entre elas, sendo que já todas estavam de braços cruzados, denunciando evidente e justificável frio. Foi também nesta altura que o malandro do câmara-man afastou o plano e o foi dado ao espectador uma bonita visão de uma praça deserta, algumas palmeiras com as ramadas a chocalhar ao vento, e o entrevistado e as miúdas em cima de um carro (teoricamente) alegórico, com capas de plástico transparente e sem a mínima cor.
O indivíduo lá foi respondendo que o frio não o amedrontava, e que S. Pedro não iria estragar a festa. Além disso, o povo daquela localidade era muito quente e gostava de se divertir, e por isso mesmo não deixaria de ir sambar – essa dança tão portuguesa, ou então não… – para a rua.
Foi mais ou menos nesta altura que a jornalista perguntou a uma das meninas se ela gostava de estar ali e de participar naquele corço. Enquanto o indivíduo olhava para a menina questionada com um olhar algo repreensivo, a resposta da menina, articulada entre dentes e através de uns lábios que começavam a estar roxos de frio, foi um profundamente enigmático “Hum…”.
Impõe-se uma tradução. O que ela queria dizer era: “Eu queria mesmo era estar em casa, na net, a falar no ICQ com o Cá Jó, que é um granda borracho lá da escola, mas o meu pai não me deixa sair daqui…”
E agora a tradução do olhar do sórdido folião: “Tu vê lá o que é que vais dizer, Kátia Vanessa; tu não envergonhes o paizinho, se não o pai depois leva-te ao Sr. Padre e deixa-te lá estar um dia inteiro com ele na sacristia… Tu vê lá!”

E assim vai o mundo português, a copiar os hábitos estrangeiros – como sempre. Não percebo como é que nós conseguimos convencer meia dúzia de malucos a desfilar de t-shirt ou só mesmo tanga, nas geladas ruas de Ovar ou Sesimbra, convencidos de que sabemos sambar e de que está um calor do caraças!

Mais uma vez, importa reforçar esta advertência: calor no Carnaval é no Brasil e nos países que estão no hemisfério Sul, ok? Ah, e sambar é próprio dos brasileiros! Nós não sabemos sambar, assim como eles não sabem entrar nas auto-estradas em contra-mão, ter 5 gramas de álcool no sangue e conseguir ir a guiar para casa, e tantas outras coisas bem portuguesas.

Ah, e já agora, aqui há pouco tempo, num outro texto, avancei com uma ideia bem estupenda, pelo menos a meu ver: o Brasil dava-nos o Jô Soares, e nós dávamos a Simara e o Roberto Leal. Agora proponho: Jô Soares por Simara (igualdade de massa), Roberto Leal (seria o bónus!), e Alberto João Jardim (o nosso melhor folião e provavelmente o pior sambista da história).

Que tal?

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