Blog do Homem Estupendo

O "blog" de um homem que é tudo menos estupendo...

A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Meu caros, mais um assunto triste vos trago hoje.
Quando era puto, umas das coisas que mais gostava era de rasgar os papéis coloridos que embrulhavam as prendas. Aliás, segundo relatos da minha família, eu chegava a gostar muito mais das cores e dos barulhos dos papéis de embrulho, do que propriamente da prenda. (Aliás, segundo a minha mãe me revelou recentemente, foi depois de ter cagado completamente para o presente que um primo meu me trouxera da América, e de ter sucumbido até me babar aos encantos do magnífico papel que embrulhava a prenda, que o tipo passou a dar prendas a todos os meus primos, mas não a mim…)
Neste Natal, pude constatar que as atraentes e desmesuradas doses de papel de embrulho estão para as crianças, como as mulheres boas para os homens: não se consegue tirar os olhos delas, e tudo o que um tipo deseja mais na vida é meter-lhes a mão e rasgá-las, ouvindo deliciosamente os seus ruídos…
E o que constato eu, hoje em dia?!
Uma tragédia.
Por causa do dia dos namorados (esse dia capitalista e mercantilista em que um tipo tem de desembolsar umas valentes coroas, sob pena de deixar de foder durante uns meses), tive que me deslocar a uma conhecida superfície comercial da capital. Na minha busca pela prenda perfeita – ou seja, a que custa pouco, mas que dá a impressão que custa muito e que, por isso mesmo, nos garantirá uma bela canzana ou um broche especial –, deparei-me com o já habitual e cada vez mais insuportável assédio dos vendedores. De cada vez que eu entrava numa loja, logo se ouve alguém dizer “Boa tarde; se precisar de ajuda…”. Dá-me sempre vontade de partir para a violência. Um tipo a pensar em que merda é que há-de comprar, e lá vem uma tipa qualquer cortar o raciocínio a um gajo. E depois, ainda tem a lata de me deixar a frase a meio: se precisar de ajuda, o quê?! O que é que acontece?! Isso é um convite libidinoso ao estilo do canal 18 e tudo não passa de uma oferta de uma boa foda no provador, ou é o quê?!
Decidam-se!
Mas enfim, depois de muito procurar, lá encontrei umas prendas para dar à minha namorada, e foi nesta altura que constatei algo muito triste: já não há papel de embrulho.
A nação chora, principalmente, os mais jovens, que juntam o seu pranto ao dos amiguinhos da Casa Pia…
O facto é que, quando eu pedi para me embrulharem as prendas, em ambas as lojas, as vendedoras apenas se limitaram a enfiar os presentes num saco de cartão.

Ora o saco de cartão é bonito e colorido?
Não!
Faz um barulho divertido quando se rasga?
Não!
Mantém o anonimato da prenda?
Não, até denuncia logo onde é que foi comprada…
Em resumo, é uma merda!

Ah, e para piorar as coisas, atentem que quando cheguei a casa, nem meia-hora depois de ter saído do centro comercial, já tinha um dos enfadonhos sacos de cartão aberto, com a prenda aos saltos e quase a sair, e o outro, mal e porcamente agrafado – já não há fitinhas, nem laços! – estava a levantar falicamente um ponta ao olhar para o meu desespero, ameaçando desintegrar-se a qualquer momento.
Parece que já estou a ver a minha namorada no dia 14: olha, foste aqui, e aqui… E compraste-me isto, e mais isto… Bem, agora vou ver as prendas, vou confirmar os meus poderes de Maya.
Vou abrir os… sacos?!

Já não há surpresa, já não há cor, já não há emoção… Só cartão.

jvoc@gawab.com

Counter Stats
magazines
magazines Counter